Efeitos psicológicas da alienação parental
Por Renata Bento
É muito comum em processos em Vara de Família observar filhos de pais em litígio ou divorciados sofrerem alienação parental por parte de um deles, ou seja, quando um dos genitores, ou ainda quem tem a guarda ou da tutela da criança, faz pressão para que ela tome partido de um lado, destruindo a imagem do outro e causando angústia e insegurança.
A título de esclarecimento é relevante explicitar que a Alienação Parental pode ser observada também em situações em que o casal não está separado, mas neste caso, pode não ficar tão evidente ou pouco se falar a respeito, uma vez que todos ainda convivem sob o mesmo teto. Em situações como esta, a Alienação Parental não é deflagrada ou discutida porque a criança ainda não é objetivamente ou legalmente objeto de disputa entre os pais, ou seja, as brigas ainda estão no domínio doméstico do casal. Com alguma frequência se percebe, ao analisar através dos estudos periciais, os casos de separação litigiosa ou divórcio, que aquela queixa atual de que um dos cônjuges promove Alienação Parental, já poderia ter sido observada anteriormente, mas não havia na ocasião esta percepção. Ou seja, na reconstrução da história pregressa daquela família, através da perícia, se observa que a queixa é atual, mas o problema é antigo; o modo como a família convivia já demonstrava sinais disfuncionais. E que no momento da ruptura conjugal deflagrou.
Os efeitos psicológicos da Alienação Parental tem sido material de discussão e preocupação entre os saberes da Psicologia e do Direito, justamente porque os riscos são muitos. A criança que cresce sendo objeto de disputa e tendo que escolher emocionalmente seu cuidador pode apresentar uma série de dificuldades emocionais.
É importante mencionar que a alienação parental pode ser experimentada pela mãe ou pelo pai, e não somente pelo pai (homem), embora seja mais observável. Sabe-se que pai e mãe são o primeiro suporte emocional para toda criança. Sendo assim, a família é considerada núcleo básico essencial e estruturante do sujeito. Como fica isso para a criança em meio a disputa judicial?
No Brasil, desde agosto de 2010, a alienação parental é definida por lei (Nº 12.318, ago/2010). No Art. 2º da Lei, “Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou o adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou a manutenção de vínculos.
Observamos, tanto na experiência clínica quanto nas avaliações para o judiciário, uma série de buracos emocionais no mundo psíquico dessas crianças e jovens; em uma época de suas vidas onde a estabilidade emocional oferecida pelas funções parentais deveria estar presente como alicerce, mas não estão. A perícia psicológica é um exame delicado que se desenrola através da investigação clínica da personalidade associada à análise dos fatos concomitante a dos sujeitos com base nos aspectos psíquicos e subjetivos, iluminando pontos conscientes e inconscientes do funcionamento mental dentro da dinâmica emocional, experimentada nas relações entre as pessoas.
O que se observa em estudos periciais ou em atendimentos de crianças em processo de guarda é que na medida em que os pais conseguem diminuir as desavenças entre eles, e passam a respeitar a criança como tal, e a proporia relação deles como pais, a criança começa a apresentar uma melhora emocional significativa. O que quero dizer, é que o estado emocional da criança vai depender e muito do modo como os pais manejam a separação conjugal, como eles lidam com suas funções parentais.Em situações em que através de uma perícia a Alienação Parental fica comprovada, algumas medidas deverão ser tomadas pelo magistrado para proteger e fazer valer o melhor interesse da criança. Essas medidas podem ser variadas, desde o encaminhamento para atendimento psicológico, ao manejo da convivência com o alienado, até a perda da guarda da criança. Cada caso será avaliado individualmente.
Renata Bento é psicóloga, psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Perita em Vara de Família e assistente técnica em processos judiciais. Filiada a IPA – Internacional Psychoanalytical Association, a FEPAL – Federación Psicoanalítica de América Latina e a FEBRAPSI – Federação Brasileira de Psicanálise.
One comment
Ednei José Dutra de Freitas
21 de junho de 2019 at 07:17
O DUPLO REGISTRO DE MEMÓRIA NA ESPÉCIE HUMANA
*Ednei José Dutra de Freitas, MD , PhD
PREÂMBULO
Neste artigo, mostro que não há o chamado \”livre arbítrio\” em nossas
vidas e em nossas escolhas porque temos, os humanos, um Segundo
Registro de Memória, que rege o nosso destino, sem que disso saibamos
porque é uma Memória aprisionada no nosso inconsciente, e por causa
disso não temos livre arbítrio para fazer nossas escolhas, e muitas
vezes repetimos escolhas erradas, tais como a escolha de cônjuges que
se mostram catastróficas na vida conjugal, mas não aprendemos com a má
experiência e repetimos novas escolhas erradas de cônjuges que repetem
conosco uma nova e péssima relação conjugal.
Este Segundo Registro de Memória, que rege o nosso destino sem que
disso saibamos, não pode ser evocado pela nossa consciência, motivo
pelo qual repetimos nossos erros e não aprendemos com nossa
experiência de vida. Salvo se nos submetermos a um rigoroso processo
de psicanálise, que pode decodificar para nós este registro
inconsciente. Este registro de memória é aprendido e apreendido por
nós sem que saibamos que o estamos aprendendo e repetindo erros
vivenciados por nossos ancestrais ou de nosso meio social, erros de
destino que nossos ancestrais também ignoram que possuem mas nos
transmitem informalmente.
Assim, para mais outro exemplo, como eleitores, votamos em maus ,
incompetentes e corruptos políticos, repetidamente, e que sempre nos
levam ao desencanto, porque sempre somos enganados por promessas
falsas ou pelo populismo. Todavia, quando chegam novas eleições
políticas, votamos novamente nestes políticos, cometendo os mesmos
erros, ou então em outros políticos com os mesmos defeitos
anti-patrióticos e desonestos.
Os dois exemplos dados acima são apenas uma gota d\’água, entre
miríades de outros erros que praticamos, guiados por uma memória
reacionária e repleta de mitos errados, malfazejos, uma memória
transgeracional, uma memória que para nós é totalmente desconhecida.
São estes dois exemplos uma gota d\’água dentre o Oceano de erros que
praticamos, sem saber que somos guiados e compelidos a \”escolher\”
nosso destino por força de mitos cruéis, contidos nesta Memória.
O DUPLO REGISTRO DE MEMÓRIA
*Ednei José Dutra de Freitas, PhD
INTRODUÇÃO
O artigo que ora apresento contém uma descoberta de um duplo registro
de memória na espécie humana. Como toda descoberta este artigo deve
ser fundamentado com a Epistemologia que, infelizmente, ainda
engatinha no Brasil.
Por tal razão sinto que será útil introduzí-lo somente após levar ao
leitor uma noção necessária e suficiente do que seja Epistemologia, o
que facilitará o entendimento e colocará o artigo à prova, como tudo
deveria ser feito em Ciência, sob as diretrizes epistemológicas de
Karl Popper expostas a seguir. Para a Epistemologia são fundamentais
as noções filosóficas do que seja objetividade e subjetividade, razão
porque começo meu arrazoado sobre epistemologia abordando estes dois
conceitos fundamentais.
OBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE
A conceituação filosófica dos termos objetividade e subjetividade foi
especialmente trabalhada por Kant (8), que usa a palavra \”objetivo\”
para indicar que o conhecimento científico deve ser justificável,
independentemente de capricho pessoal. Uma comunicação, uma
descoberta, serão objetivas se puderem, em princípio, ser submetidas a
prova e compreendidas por todos. Diz Kant (8):”: Se algo for válido
para todos os que estejam na posse da razão, seus fundamentos serão
objetivos e suficientes\”. Aplica a palavra \”subjetivo\” para os nossos
sentimentos de convicção (de vários graus). Estes sentimentos surgem,
por exemplo, de acordo com as leis da associação, acrescentando ainda
o filósofo que \”razões objetivas também podem atuar como causas
subjetivas de juízo, à medida que possamos refletir acerca dessas
razões, deixando-nos convencer de seu caráter racionalmente
necessário\”. Popper (10), por sua vez, sustenta que as teorias
científicas nunca são inteiramente justificáveis ou verificáveis mas
que, não obstante, são suscetíveis de se verem submetidas a prova. Em
consequência, a objetividade dos enunciados científicos reside na
circunstância de poderem ser intersubjetivamente submetidos a teste.
Em seu livro, citado na bibliografia(10), Popper reconhece que Kant
foi \”talvez o primeiro a afirmar que a objetividade dos enunciados
científicos está estreitamente relacionada com a elaboração de
teorias- com o uso de hipóteses e de enunciados universais…Só quando
certos acontecimentos se repetem, segundo regras ou regularidades, tal
como é o caso dos experimentos passíveis de reprodução, podem as
observações ser submetidas a prova -em princípio- por qualquer pessoa.
Na teoria popperiana, por este denominada \”Teoria do Método Dedutivo
de Prova\”(10), uma hipótese só admite prova empírica – e tão somente
após haver sido formulada. O trabalho do cientista consiste em
elaborar teorias e pô-las a prova. Com isso ele quer dizer que \”o
estágio inicial, o ato de conceber, criar ou inventar não reclama
análise lógica nem dela é suscetível, só importando a justificação de
validade (o quid juris?, de Kant)\”(Popper) (10). Afirma ainda este
filósofo que não existe um método lógico de conceber idéias novas
porque toda descoberta encerra \”um elemento irracional ou uma intuição
criadora, no sentido de Bergson\”. Indo além, Popper afirma não haver
enunciados definitivos em ciência, o que concorda com Kant, pois a
coisa em si, a verdade absoluta, é incognoscível, sendo o conhecimento
em ciência sempre aproximativo e passível de ser mudado. Errar em
ciência é inevitável.
Em Psicanálise, o desenvolvimento científico não é diferente das
demais ciências, não havendo desacordo com os critérios filosóficos de
Kant e Popper. A realidade de que a Psicanálise pode tomar
conhecimento é a realidade das apresentações psíquicas da pulsão, e
não das pulsões em si mesmas. Freud disse a respeito que \”o objeto
interno é menos incognoscível que o mundo exterior…como o físico,
tampouco o psíquico necessita ser em realidade tal como nos parece.
Todavia nos agradará descobrir que a retificação da percepção interna
é menos rebelde do que a retificação da percepção externa, e que o
objeto interno é menos incognoscível do que o mundo exterior\”.
Todavia, finaliza Popper (10) :\”todo enunciado científico empírico
pode ser apresentado de maneira tal que todos quanto dominem a técnica
adequada possam submetê-los a prova. Se, como resultado, houver
rejeição do enunciado, não basta que a pessoa nos fale acerca de seu
sentimento de convicção, no que se refere às suas percepções. O que
essa pessoa deve fazer é formular uma asserção que contradiga a nossa,
fornecendo-nos indicações para submetê-la a prova. Se ela deixa de
agir assim, só nos resta pedir-lhe que faça novo e mais cuidadoso
exame de nosso experimento, e que reflita mais demoradamente\”. Sob as
luzes da Epistemologia, como apontada nos parágrafos anteriores, vou
apresentar minha descoberta, a de que há dois registros distintos de
memória na espécie humana, colocando minha descoberta a prova por
todos que dominem a técnica adequada e a possam submeter a teste. Por
razões didáticas vou dividir a explanação de minha descoberta em dois
capítulos abaixo descritos.
CAPÍTULO 1
Nosso destino é construído no decorrer da ontogênese, como edificação
psíquica fantasmática que se inicia no útero com impressões e emoções
emanadas do inconsciente materno. O destino habita o porão da nossa
mente, de tal maneira que cada um de nós, dependendo de como resolve,
ou não, o complexo de Édipo, determina para si próprio, sem nunca o
saber conscientemente, isto é, com os recursos da memória comum que
conhecemos, todo o trajeto de vicissitudes que irá percorrer pela vida
afora. Não está escrito nos astros, embora muitas vezes possa ser
previsto à perfeição por astrólogos, cartomantes, videntes,
pais-de-santo: não porque forças do além ou almas do \”outro mundo\”,que
não existem, venham em auxílio para esses maravilhosos paranormais. O
que acontece é que estes têm a faculdade, ainda desconhecida da
ciência em sua fisiologia, de fazer a leitura direta do inconsciente
(do consultado) pelo inconsciente do paranormal. Todavia, é de
conhecimento público e universal que estas acertadas previsões,
acertadíssimas muitas vezes, apenas reportam para o consultado o que
vai ocorrer em sua vida, mas exatamente são acertadas porque nunca
servem para mudar o curso do destino do consultado ou de sua história.
Não há psicoprofilaxia para miríades possíveis de autoconfigurações
ontogenéticas da psicogênese de cada um de nós, já que dependem, cada
uma, de fatores intrínsecos e ainda imponderados de cada criança que
vem ao mundo, parecem depender pouco ou nada do nosso DNA já que
gêmeos homozigóticos podem traçar para si destinos completamente
diferentes – o que isenta os pais e a família de qualquer
responsabilidade. No cume de minha carreira profissional, que se deu
no ano de 1991, descobri a \”Memória dos Freitas\” (e aqueles que
ficarem curiosos porque dei à memória que descobri o nome de minha
família digo que foi por um imperativo categórico, exaustivo e
desnecessário de explicar aqui, mas extensamente explicado no meu
livro, constante da bibliografia)4 e a publiquei na terceira edição de
meu livro \”Psicofarmacologia Aplicada à Clínica\”. A Memória dos
Freitas é uma descoberta psicanalítica e é uma expressão de nosso
destino. A imensa maioria das pessoas passa a vida estritamente dentro
de seus preceitos e limites, mas uma minoria de pessoas rompe com
estes, embora mesmo assim sua influência sobre tais rompedores
continue implacável por toda a vida. Aqueles que vivem unicamente nos
preceitos e limites da Memória dos Freitas são a maioria do povo, os
menos inquietos com seus dogmas, os que não sentem necessidade de
criar, de procurar um pensar genuíno, inovador ou mesmo
revolucionário, nem mesmo alcançam uma diferenciação de self do
conjunto simbiótico da horda humana em que vivem. Comportam-se, no
mundo, como rebanho. Para os que podem usufruir desta benesse, há uma
tessitura de vida pronta, aprendida e apreendida na casa parental, no
convívio social, e, em geral, podem ter garantido para si uma vida
menos atribulada, ou até estável, já pronta -como destino- no porão da
mente. Mantêm-se na mediocridade de ser e não precisam transgredir a
Memória dos Freitas.
A Memória dos Freitas é a memória
sócio-cultural-inconsciente-familiar-pessoal do indivíduo, sua
mitologia, sua religião e crenças, seus ideais a serem perseguidos,
dentro de sua tradição e seu folclore. Os transgressores não o fazem
por prazer mas por necessidade (inquietação anímica, sensibilidade
supra-mediana). A compositora Chiquinha Gonzaga, por exemplo, cuja
vida anímica não cabia em sua tradição familiar e cultural rompeu pela
esquerda com a Memória dos Freitas. Quando há esta ruptura, torna-se
impossível regressar a esta memória e viver dentro de seus preceitos,
e o indivíduo transgressor é obrigado a criar para si e para o mundo,
redesenhar o universo para renominar as coisas, outros meios e
métodos, outros paradigmas, outros ideais a serem perseguidos, outra
maneira que lhe ajude a não sucumbir ao caos que decorre do abandono
de padrões familiares, culturais, sócio-educativos pré-estabelecidos
no decorrer e na construção feita por várias gerações suas ancestrais,
cujo objetivo é \”enquadrar\” o rebanho e tornar possível a vida em
sociedade (a mediocridade do enquadramento como rebanho é necessária,
pois sem as normas inconscientes, as massas promoveriam a barbárie e a
autodestruição: a Memória dos Freitas é uma necessidade humana, nesta
pré-história do humanismo). Para os que rompem pela esquerda, criar
passa a ser uma tarefa árdua e compulsória, ah! esses príncipes e
princesas da solidão!, mesmo que aparentemente acompanhados.
O sujeito bem adaptado à Memória dos Freitas vive, em geral, sem
grandes inquietações interiores, e suas ambições coincidem com as de
seu meio sócio-cultural, sendo por isso bem aceitos em suas
comunidades. Tais pessoas podem enriquecer de dinheiro, tomar postos
no grande empresariado, nas lideranças políticas ou religiosas, podem
ser excelentes profissionais liberais, como também podem -a maioria-
fazer parte da população de baixa renda. São todos estes os indivíduos
comuns do povo e sua maioria é aquilo que podemos chamar de \”pessoa
normal\”. Para aqueles que rompem pela esquerda com a Memória dos
Freitas, surgirá, inexoravelmente, a hostilidade familiar e social: o
sujeito passa a ser visto como esquisito, extravagante, ou mesmo
\”maluco\”. Todo este mal-estar que causa à família e ao meio social que
frequenta provoca, nestes últimos, a reação de contrapartida, cujo
objetivo (inconsciente) é forçar a volta daquele que rompeu para os
cânones da Memória dos Freitas, já que o rompedor questiona dogmas e
valores sociais vigentes, ameaçando a homeostase do rebanho. Um
artista ou escritor de talento, um compositor ou pintor criativo, irá
experimentar estranheza ante aquilo que, antes, lhe era familiar, e
passará a questionar e mudar sua visão de mundo. Há, então, de pagar o
ônus de ser diferente para conseguir conviver com aceitável harmonia
no meio social que o hostilizará. Paradoxalmente, com o passar dos
anos (mas às vezes, infelizmente só post-mortem) terá compensações e
reconhecimentos, que normalmente tardam. Mas certamente ganham para si
próprios os louros de maior riqueza na vida espiritual , além de
deixar um legado conceitual enriquecedor para a humanidade. A Memória
dos Freitas é, também, uma fonte de conhecimento de nossa
pré-história, e neste sentido não pode ser desprezada. Por exemplo,
nos sonhos, na regressão hipnótica, nas rememorações verdadeiras
-embora ainda explicadas com teoria pífia e errônea- ocorridas nas
auto-denominadas \”terapias-de-vidas-passadas\” (que são inócuas
exatamente por causa da fundamentação teórica bizarra), em gestos e
comportamentos \”involuntários\” (inconscientes) que o indivíduo
reproduz no cotidiano ou em alguma época de sua vida, tais como uma
maneira de andar (lembrar a Gradiva, de Jansen, analisada por Freud),
ou movimentar coreograficamente as mãos e o corpo ou comportar-se com
gestos, temperamento, caráter tal qual um bisavô ou bisavó que nunca
conheceu (características muitas vezes atávicas), ou uma compulsão
para adoecer das pernas a partir de uma certa idade, na velhice, comum
em algumas gerações de famílias que acompanho e anoto o registro (4),
de tal maneira que o descendente remoto, irmãos e primos param de
andar sem razão médica detectável, imitando mesmo que atavicamente
seus ancestrais desconhecidos. Toda esta constelação de fatos pode nos
dar pistas sobre as \”vidas passadas\”, o destino e a Memória dos
Freitas, ao sujeito transmitidos por seus antepassados, de forma
sub-reptícia, inconsciente, predominantemente averbal, até porque de
antepassados que sequer conheceu, às vezes muito remotos no tempo.
Esta transmissão inconsciente de códigos comportamentais e de destinos
foi, de certo modo, reconhecida por Freud como fenômeno natural da
psiquê humana. Disse Freud no Capítulo V (10) (vide página na
bibliografia) de seu livro \”Esboço de Psicanálise\”, uma de suas
últimas obras, que \”os sonhos trazem à luz um material que não pode
ter-se originado nem da vida adulta de quem sonha nem de sua infância
esquecida. Somos obrigados a considerá-los parte de uma herança
arcaica que uma criança traz consigo ao mundo, antes de qualquer
experiência própria, influenciada pelas experiências de seus
antepassados. Descobrimos a contrapartida deste MATERIAL FILOGENÉTICO
(o grifo é meu) nas lendas humanas mais antigas e em costumes que
sobreviveram. Dessa maneira, os sonhos constituem uma fonte da
pré-história humana que não deve ser menosprezada\”. Aqui vemos com
clareza que Freud reconheceu o fenômeno da transmissão de códigos
inconscientes comportamentais, transgeracionais e sócio- culturais
entre gerações que sequer tiveram contato temporal, mas também podemos
notar, com igual transparência, seu erro teórico crasso, absurdo para
os conhecimentos da ciência atual. Para Freud, a gravação da memória
de costumes, lembranças e códigos comportamentais a nós transmitidos
por nossos antepassados seria filogenética, isto é, repassada das
vivências de gerações antigas para e pelo DNA (Em sua época ele falava
de “gametas\”). O pai da psicanálise não estava sozinho ao pensar assim
em sua época (Jung também) (4). A Lei da Herança de Caracteres
Adquiridos, da Teoria da Evolução de Lamarck (3) ( vejam na
bibliografia) (1) ainda tinha adeptos, incluindo-se a Teoria da
Degenerescência, que Freud abraçou em sua obra, embora timidamente; e
entre os adeptos de Lamarck estava Freud, que se opunha à Teoria da
Evolução de Charles Darwin, jamais abraçada por ele (embora Freud cite
Darwin algumas vezes em sua obra, e lhe faça elogios, o que fez com a
razão, Freud escreveu o nome de Darwin em sua obra como os católicos
escreveram o nome de Pôncio Pilatos no CREDO: o nome está lá mas não
tem nenhuma função: não há uma só interpretação nos casos clínicos de
Freud ou uma só frase em seu oceano de insights contido em suas obras
completas que tenham sido intuídos com matizes subjetivos da teoria
darwinista). E isto tem uma explicação. A teoria darwinista jamais foi
abraçada por Freud porque supostamente (até hoje) fere as escrituras
sagradas judaicas. Freud era ateu, admirava Darwin com sua razão, mas
por motivo afetivo jamais conseguiu se distanciar, inconscientemente
(Memória dos Freitas) da cultura e da tradição judaicas, às quais foi
sempre solidário, nos acertos e nos erros. Hoje, nem uma criança de
ensino médio ou Freud se permanecesse vivo iriam aceitar explicações
lamarckistas.
Sou obrigado a abrir um parágrafo aqui porque desde 1991 tenho
experimentado oposição na troca verbal de ideias com analistas vários,
judeus e não judeus, por causa desta minha afirmação de que Freud
abominava emocionalmente Darwin e se apoiava em Lamarck para
(inconscientemente) proteger a cultura judaica. Já me chamaram até de
anti-semita! Outros, menos radicais, dizem que não é verdade, que
Freud adorava Darwin: prezados leitores, é só ler Ernest Jones(1) na
bibliografia e nas páginas que indico neste trabalho, o insuspeito
Ernest Jones, para fazer calar estes insultos que venho recebendo há
treze anos. Acho que o próprio Freud treme no túmulo cada vez que ouve
um psicanalista argumentar estes horrores ortodoxos e dogmáticos
contra minha descoberta. A investigação sobre a transmissão de códigos
entre gerações, falada por Freud, nunca foi prosseguida (nem se fala
nisso) pelos psicanalistas porque há muita ortodoxia e,
pior,dogmatismo, mesmo entre os psicanalistas. E logo dogmatismo lendo
como “Bíblia” as palavras do pai da psicanálise, que nunca pediu
rebanho e tinha horror de fanáticos-dogmatistas! Ortodoxia
psicanalítica ou dogmatismo psicanalítico = Memória dos Freitas dentro
da própria Psicanálise. Quem foi mais heterodoxo com suas próprias
idéias, insatisfeito com a primeira criou a segunda tópica
psicanalítica, entre muitos outros exemplos foi o próprio Freud, o
gênio que possibilita eu hoje estar escrevendo este artigo. Mas não
imagine o leitor quão difícil é colocar este assunto, quanto
sofrimento, quanta incompreensão tenho recebido. Mas não tenho como
sucumbir ao dogma. Minha teoria pode ser refutada (e espero que seja)
pelos critérios de Popper, epistemologicamente. Mas na base da
ortodoxia psicanalítica, não. Até porque este não é o critério de
refutar teorias. E estou convencido de estar com a razão. Por outro
lado, no vácuo teórico deixado por Freud, os espíritas passaram a
\”explicar\” esta \”memória-de-vidas-passadas\” com uma teoria tão absurda
quanto a de Freud. A teoria dos espíritas é consensual, hoje, entre
os\”terapeutas-de-vidas-passadas\” no mundo todo, e se alastram tanto
quanto as diferentes seitas evangélicas Brasil afora, fazendo vítimas.
Acreditam estes \”terapeutas\”, todos espíritas, que no setting da seção
de \”terapia-de-vida-passada\” almas do \”outro mundo\” encarnam-se no
paciente, hipnotizado ou não, o que, então, para estes, explicaria
suas lembranças de épocas remotas, anteriores ao seu nascimento.
Claro, assim também não dá. Todavia o fenômeno, já notado por Freud,
de reminiscências que o sujeito tem de fatos que antecederam a seu
nascimento é um fato da natureza humana e tudo que é fato da natureza
insiste em acontecer e reclama uma explicação. O que fiz ao nominar
(criar) a noção de Memória dos Freitas foi refutar, de acordo com os
critérios epistemológicos de refutação de Karl Popper, as duas teorias
acima descritas, a de Freud e a dos espíritas, trazendo uma nova
teoria que contradiz aquelas e oferecendo ao leitor os meios de
refutar a minha própria teoria. O conceito e a constelação de
proposições que compõem a Memória dos Freitas, porém, não se esgota
aqui.
Na verdade, coloquei à frente este assunto da memória entre gerações
não conviventes por seu apelo à atenção pública, mas este é apenas um
assunto um tanto periférico de minha descoberta. Outros aspectos mais
relevantes e mais importantes da Memória dos Freitas vou abordar no
capítulo 2 deste ensaio, para dar uma folga ao leitor para respirar.
Todavia, acrescento que as lembranças de fatos que ultrapassam no
tempo a época do nascimento de pacientes, pelo que observo em minha
clínica, não se referem somente a parentes ancestrais consanguíneos:
podem ser do ambiente de uma família adotiva, o que sepulta de vez a
hipótese de transmissão pelo DNA. E, ainda, estas lembranças podem ser
interpretadas e decodificadas no setting da psicanálise (4). A
psicanálise, ao decodificar e interpretar a Memória dos Freitas, muda
o destino, e não há cartomante ou vidente paranormal que possa prever
o que virá a acontecer no futuro de um paciente bem analisado. Outras
consequências de minhas descobertas, em parte publicadas neste
primeiro capítulo e aqui em primeira mão, já que quando publiquei a 3°
edição de meu livro (4) ainda não havia percebido isso, é que só há
indicação de psicanálise para aqueles que rompem pela esquerda com a
Memória dos Freitas. É crueldade psicanalisar um paciente, mesmo
neurótico, bem adaptado à Memória dos Freitas porque a psicanálise (se
for bem feita) irá fazê-lo romper com a Memória e trará sofrimento
para o paciente, muitas vezes sem a força criativa necessária para
reordenar o caos que daí decorre, mesmo com auxílio do analista. A
pobreza de espírito, a adaptação à mediocridade são, portanto,
contra-indicações absolutas de psicanálise. Já os que rompem pela
direita com a Memória dos Freitas – psicopatas, dementes,
esquizofrenias com sintomas negativos (a hebefrênica especialmente),
esquizofênicos cronificados, deficiência mental- a psicanálise é uma
hipótese que deve ser definitivamente afastada: nessas pessoas não há
como criar e reordenar o caos pelo insight e interpretações,
provocando uma ruptura impossível pela esquerda com a Memória dos
Freitas. Para esses, terapias alternativas que não molestem o
inconsciente são melhor indicadas. Outro desdobramento de minha
descoberta, que eu não havia percebido ainda quando publiquei minha
terceira edição de meu livro (4) é o de que nos psicóticos que rompem
pela direita (esquizofrenia hebefrênica ou a forma catatônica da
doença , psicoses cronificadas), nas demências que deles necessitem,
só há dois antipsicóticos (neurolépticos) de segunda geração no
mercado brasileiro que ajudam a tratar: a quetiapina -o melhor de
todos- e a amisulprida. O haloperidol, bem como os demais
antipsicóticos, mesmo os de segunda geração como a olanzapina, a
risperidona, a clozapina, por exemplo, não só não ajudam a tratar como
agravam estes quadros mórbidos. Isto a experiência empírica dos
colegas poderá confirmar (embora eu não recomende que tentem
doravante) mas é um fato clínico observado com rigor por quem escreve
livros e artigos sobre psicofarmacologia desde1981.
No entanto, o haloperidol, os neurolépticos tradicionais e os demais
antipsicóticos de segunda geração que não a quetiapina e a amisulprida
são de valor e ajudam a tratar, com eficácia similar estes outros
pacientes (a escolha deve ser feita apenas levando em conta apenas os
efeitos adversos) aos esquizofrênicos e demais psicóticos que têm
sintomas produtivos (delírios, alucinações, predominantemente), como
na forma paranóide da esquizofrenia, na mania, (mas estes pacientes
normalmente rompem pela esquerda com a Memória dos Freitas), quando
bem tratados pelos psiquiatras e também nestes a psicanálise é
normalmente bem indicada como psicoterapia, ou melhor, já que não é
propriamente uma psicoterapia, como técnica de investigação do
inconsciente, o que acaba sendo terapêutico. A psicanálise, nos que
rompem pela esquerda, pode decodificar e interpretar a Memória dos
Freitas e é a única via que conheço para modificar o destino porque
joga um facho de luz nos porões da mente.
Antes que em algum leitor suscite a ideia de que ao falar em romper
pela esquerda e romper pela direita com a Memória dos Freitas a
matéria tenha alguma raiz ideológica, pergunta que já me foi feita
várias vezes, esclareço que não: em meu livro há um gráfico publicado
com quadrante cartesiano de abscissas e ordenadas, com projeção em
épura, no plano, da figura espacial que visualizei da Memória dos
Freitas, no espaço, com o olho observador e projetor colocado em
perpendicular (90 graus) relativamente ao plano cartesiano, colocado
abaixo da imagem espacial, e sobre o centro da figura. Nesta projeção
aparece a imagem plana da Memória dos Freitas centralizada no
quadrante cartesiano. As doenças que mencionei como tendo rompimento
criativo estão projetadas à esquerda da imagem central da Memória, e o
rompimento destrutivo aparece projetado à direita. É pura Geometria
Descritiva. É tal como acontece para se estudar um tórax: não se
radiografa o pulmão em três dimensões, mas a épura (não deixa de ser
épura) da figura espacial do pulmão que se quer estudar é vista no
plano da radiografia. O mesmo vale para a tomografia, ressonância
magnética: Seria difícil trabalhar com ressonância magnética de uma
imagem espacial do cérebro, por exemplo. Temos de trazê-la para o
plano, em épura.
.
CAPÍTULO 2
No capítulo anterior discorri sobre a memória de fatos ocorridos antes
de nascermos, aprendida e apreendida desde o útero materno e após o
nascimento na casa parental e no meio social , que esta é inconsciente
e impossível de evocar à consciência sem ajuda especializada, e que
molda nosso comportamento cotidiano, crenças, erros e até acertos em
nosso relacionamento com o próximo; ela é provinda de aprendizado
averbal e informal, chamei-a de Memória dos Freitas e disse que o
aspecto da reminiscência de fatos que precedem nossa data de
nascimento dela faz parte. Mas afirmei que este é apenas um aspecto
periférico de uma constelação de complexidades que formam a Memória
dos Freitas, havendo outros muito mais importantes, embora tenham
menos apelo à curiosidade humana. Mas sua utilidade e descoberta são
uma nova aquisição da Ciência e devemos destes tomar conhecimento.
Neste artigo vou revelá-los. O fenômeno foi primeiramente observado
por Freud, mas a investigação paralisou porque este acreditava que a
transmissão de memória entre gerações que não se tocaram no tempo era
feita pelos gametas, isto é, pelo DNA, o que é uma teoria absurda.
Freud tinha em seu entorno o campo cultural de uma época na qual o
Lamarckismo era muito forte, embora a Teoria da Evolução, de Darwin,
já fosse conhecida. Sabemos que Freud, escritor de \”O futuro de uma
ilusão” muito se distanciou intelectualmente, das posições e dogmas
religiosos, mas para ele o peso mítico deste aspecto evolucionista,
por ser ele judeu, inconscientemente, foi-lhe intolerável de ser
vencido, e ele não conseguiu distanciar-se, neste particular,
AFETIVAMENTE, de sua cultura judaica, de tal maneira que este ponto
afetivo tornou-se um ponto inatingido à compreensão do mestre. Vou
aproveitar o conceito de ponto inatingido (4) como marca da cultura e
da tradição regional, familiar e pessoal inconscientes de cada um de
nós, para explicitar a tradição a que chamei de Memória dos Freitas. O
que chamei de Memória dos Freitas é, também, nossa instância mítica. E
o que é um mito?
Os mitos são contos que não conseguimos desmentir, decodificar ou
reduzir com o curso normal do pensamento e com a evocação da memória
comum, já que não são conscientes. São relatos de origem popular, não
reflexivos, na maioria das vezes retratando forças da natureza ou
crendices tão ilógicas como onipresentes e atuantes em nosso
cotidiano, escondidas no porão da mente: lobisomem, ideias de que olho
grande e inveja de outros têm energia para nos trazer infortúnio (sem
que consigamos enxergar o óbvio científico de que inveja não tem
energia nenhuma, tanto na concepção da Física Clássica, de Newton,
quanto na da Física Quântica (2), e por ser um sentimento, apenas, e
inerente ao sujeito que dela padece, e só faz mal ao invejoso). O
raciocínio crítico sucumbe aos mitos, porque os mitos, sendo
inconscientes, não são suscetíveis de exame pela razão e nem nela
chegam, por mais inteligente e perspicaz que seja a pessoa. Estes são
aprendizados inconscientes irracionais. Posso dizer também que o mito
é uma verdade que o indivíduo inconscientemente se acredita possuidor,
que não é estabelecida pela razão. Sua decodificação é difícil, mas
possível através da psicanálise, e a dificuldade é ancorada no fato de
não podermos evocá-los à lembrança, em outras palavras, à luz do
pensamento, e às vezes é difícil até mesmo decodificar seu próprio
enunciado, que pode, ser intensamente vivido pelo indivíduo, sem que
este se aperceba sequer de como é que seu mito se enuncia. Como eu
disse, os mitos são contos que não podemos desmentir, descumprir,
decodificar ou reduzir pelas vias normais do pensamento, e têm um
caráter universal, quer seja este universo a humanidade toda, a
região, a família ou a própria subjetividade do sujeito (mitos
pessoais). E agora? Digo que os mitos são contos e que há nesta sua
transmissão, através das gerações, um aprendizado informal, e o leitor
há de perguntar: Então quem conta esses contos? A esta pergunta vou
responder com um caso clínico emprestado do próprio Freud, em cima de
uma passagem de seu livro \”Análise da fobia de um menino de cinco
anos\”5, o famoso caso do pequeno Hans.
Logo na introdução, parte I do texto, conta Freud que Hans, aos três
anos e meio de idade, foi visto por sua mamãe tocando com a mão no
próprio pênis. Ela o ameaçou com as seguintes palavras: \”Se fizer isso
de novo, vou chamar o Dr. A para cortar fora o seu \’pipi’ \”. Como se
pode perceber, esta curta história, tão universal, que se passou com
Hans e sua mamãe – e todos nós já presenciamos mães e adultos
repetindo esta mesma ameaça a crianças pequenas sem saber que estão
propagando um trágico mito inconsciente – contém uma codificação
inconsciente mítica, que a mãe de Hans nem conhecia de pleno teor o
seu significado, codificação que a ela foi transmitida por seus
ancestrais e que ela retransmitiu para o filho. Exatamente por não ter
consciência do enunciado do mito que estava retransmitindo ao filho, o
retransmitiu de forma incompleta e falseada. Na verdade, nem era o Dr.
A que estava presente no inconsciente da mãe de Hans quando ela
retransmitiu ao filho uma ameaça aprendida inconscientemente com seus
próprios ancestrais. Este material, incompletamente verbalizado, deu a
Hans munição para a formação de um de seus mitos, o mito da castração.
Entre as lacunas que ficam naquilo que é transmitido pelas gerações
anteriores, entre as lacunas daquilo que é retransmitido incompleta e
falseadamente, entre as lacunas daquilo que o menino ou a menina podem
apreender com as suas próprias palavras (único instrumento simbólico
que dispõem para construir sua visão de mundo) e fantasias que
encontram sobre o que observam em si mesmos e no mundo externo nascem
os mitos, todos os mitos, estes tapa-buracos do pensamento humano. Os
nossos mitos mais primevos e mais universais são as nossas
protofantasias, a de sedução,a de castração e a da cena primária. São
elas fantasias sobre a origem, e não fantasias presentes desde a
origem (como imaginavam Freud, Jung e ainda muitos analistas hoje em
dia, resíduos do Lamarckismo, que imaginava, dentro da psicanálise,
que as protofantasias já vinham desde a origem, trazidas pelos gametas
– DNA-) e que bom que são, na verdade, apenas fantasias criadas pelas
representações simbólicas através de impressões e experiências
inconscientes, e, portanto, fantasias que nós todos criamos como
edificações simbólicas na ontogênese – desenvolvimento que depende da
cultura-, pois se fossem fantasias herdadas pelo DNA –
(filogenéticas),como pensavam Freud e Jung, como poderia a psicanálise
atenuar efeitos mitológicos desestruturantes?
Mitos desestruturantes tanto quanto mentirosos são os que as pessoas
têm de que inveja e olho grande, ou ódio de outrem podem ter uma
\”energia\” que faz mal ao indivíduo invejado. Este é apenas um exemplo,
entre miríades. Se apelarmos para a razão e o conhecimento da
ciência,os mitos cairão por terra ao primeiro exame: Os mitos só
servem à perpetuação dos dogmas e à manutenção do espírito de rebanho,
geralmente provocam medo e têm a função social complementar às leis
civis e religiosas, sendo mais poderosos que essas porque não são
verbalizáveis, são impostos pela Memória dos Freitas e imunes ao
raciocínio crítico e à liberdade de opinião, e têm como função
primordial não permitir que o indivíduo mediano transgrida \”normas\”
estabelecidas socialmente e, portanto, têm eficácia em impedir uma
barbárie, ainda maior do que a que hoje vemos no Brasil e no Mundo. A
descoberta da Memória dos Freitas e a possibilidade que aí se abre
para jogarmos sobre esta, (que habita os porões da mente e cujos
subprodutos assustadores, castradores, tirânicos, impositivos
proliferam como fungos na escuridão), fachos de luz, permitem o alívio
e a libertação de todos nós dos grilhões que nos tolhem os passos do
crescimento, desfazem nossa ignorância sobre as verdades da natureza e
ajudam no sentido de que a nossa vida seja mais produtiva, livre,
descontraída e profícua, sem medos absurdos e irracionais. No
presente, só uma minoria rompe com ela (a Memória dos Freitas) e não é
por escolha, mas por desconforto, e quando rompe pela esquerda cria as
obras que edificam o conforto e o progresso da humanidade: nós vivemos
todos nas costas desses gigantes. A maioria das pessoas precisa ficar
dentro dela, já que a civilização ainda não criou instrumento menos
cruel para garantir à grande massa a necessária humanização sem usar
instrumentos coercitivos: e não só da Memória dos Freitas que
precisamos para que não se saia cometendo por aí, Brasil e mundo
afora, toda espécie de delitos, crimes, das maneiras mais horrendas:
ainda precisamos de Código Penal, polícia, religião e Forças Armadas!
A humanidade ainda está na pré-história do humanismo. Só os muito
grandes de espírito percebem a coerção que a Memória dos Freitas
representa e com ela rompem para criar. Mas se a humanidade toda
rompesse, sem os mesmos recursos criativos desses super-homens, seria
uma catástrofe.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Jones, Ernest – Vida e Obra de Sigmund Freud, IMAGO ED.. Vol.2,
páginas de 301 a 313, Título X – Biologia, Rio de Janeiro, 1975.
2. Kalmus, H. – Genetics, Pelican Ed., London, 1948.
3. Lamarck, Jean Baptiste – Philosophie Zoologique, Librairie
Reinwald, Schleideir Frères Editeurs, Paris, 1907.
4. Freitas, Ednei – Psicofarmacologia Aplicada à Clínica, EPUB ED., 3°
Edição, páginas de 3 a 47, Rio de Janeiro, 2000.
5. Freud, Sigmund – Análise de uma fobia em um menino de cinco anos,
IMAGO ED., Edição Standard Brasileira, Vol. X, Rio de Janeiro, 1975.
6. Freud, Sigmund – Os instintos e suas vicissitudes, IMAGO ED.,
Edição Standard Brasileira, Vol.XIX, Rio de Janeiro, 1975.
7. Freud, Sigmund – (1937-1939) – Esboço de Psicanálise, IMAGO ED.,
Edição Standard Brasileira, Vol XXIII, páginas de 169 a 210, mas
especialmente a página 193, Rio de Janeiro, 1975.
8. Kant, I. – (1781). Critique of pure reason, in The Transcendental
Doctrine of Method, N. Kemp Smith Ed., Capítulo II, seção 3, página
645, England, 1933.
9. Popper, Karl – A lógica da pesquisa científica, Ed. Cultrix,
páginas de 46 a 49 e 106, São Paulo, 1989.
10. Poper, Karl – Conhecimento Objetivo, Ed. Itatiaia, páginas de 152
a 158, Belo Horizonte, 1975.
RESUMO
Este artigo contém a comunicação científica da descoberta de que há um
duplo registro de memória na espécie humana. O segundo registro, ora
comunicado ao meio científico, é desconhecido pela ciência e difere do
que a ciência, a psiquiatria e a psicanálise conhecem e nominam como
memória, até o presente momento. Tal conhecido registro é um dos
registros de memória que tem o ser humano, mas o segundo registro que
se distingue completamente do que hoje se conhece como memória, ainda
é ignorado por estas ciências. A descoberta aqui publicada o foi à luz
da Epistemologia.
ABSTRACT
This article introduces a discovery of a double memory register in
human mind. The second memory register now discovered is until unknown
by science and has different function of the first one well know by
science. They are not similar at all. That discover is published here
under lights of Epistemology.
RESUMEN
El articulo contiene la comunicación cientifica de descubrimiento de
que hay dos y no solo uno registro de memoria en los humanos. El nuevo
registro acá hecho en comunicación para la comunidad cientifica és
desconocido por la ciencia, la psiquiatria, la psicoanalisis, y és muy
diferente de lo que estas ciencias conocem con el nombre de memoria
(esto derradero, és tan solamente uno de los registros de memoria en
el hombre e ya se lo conoce bién) hasta nuestros dias. El articulo,
como el descubrimiento, se hace acá descripto a la luz de la
Epistemologia.
* Ednei José Dutra de Freitas, MD , PhD. é psiquiatra, psicanalista,
Membro Titular da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, Analista
Didata da International Psychoanalytical Association (IPA),
ex-professor de Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de
Medicina da UERJ (RJ), Membro Titular da Sociedade Brasileira de
Médicos Escritores (SOBRAMES) e autor do livro Psicofarmacologia Aplicada à Clínica, 3ª Edição , Editora EPUB , Rio de Janeiro, 2000.